No terceiro aniversário do novo edifício, comemorado a 28 de Novembro, a Biblioteca Municipal Gustavo Pinto Lopes recebeu o escritor Valter Hugo Mãe, que apresentou o seu mais recente romance: O filho de mil homens.
Numa sessão informal mas plena de conteúdo, foi possível evidenciar o percurso literário de um dos escritores mais proeminentes da contemporaneidade literária em Portugal, assim como dar a conhecer as vicissitudes de um autor e músico multifacetado. Como referiu Luís Dias, chefe da divisão de cultura da Câmara Municipal de Torres Novas, ao apresentar o autor «a força telúrica das palavras e o registo singular das vielas do passado tornaram Valter Hugo Mãe no nome mais badalado da Festa Literária Internacional de Paraty, Brasil, deste ano (…) É por muitos críticos considerado “o mais consistente escritor da nova geração do romance português”»
Coube a Margarida Teodora, técnica da BMGPL, apresentar a sua interpretação do livro O filho de mil homens, como ponto de partida para a discussão que se seguiria. «É um livro que nos fala da esperança e da aceitação do outro e de como o passado não tem que pesar como uma herança sobre a construção de um novo futuro» destacou Margarida Teodora, concluindo: «Esta obra trata principalmente da força do amor e da aceitação do outro para vencer o preconceito… ou, por outro lado, de como pode o preconceito destruir as pessoas e o mundo»
Depois de ter escrito romances protagonizados por personagens no princípio, no meio e no fim da vida, o escritor decidiu usar como ponto de partida o seu tempo verdadeiro. Chamou-lhe «O Filho de Mil Homens», e apresenta-nos Crisóstomo, um homem de 40 anos incompleto por lhe faltar um filho. «Querer ter filhos não é uma coisa só das mulheres. É uma causa típica de quem está vivo. Também faz parte dos homens esse amor que temos para dar», destacou Valter Hugo Mãe.
«A primeira frase do livro é muito reveladora: a partir do momento em que o Crisóstomo assume a tristeza de não ter um filho, não tem mais como disfarçá-la. E isso é uma forma de acreditar que essa tristeza pode ser superada e que alguma coisa tem de ser feita para a superar. Toda a escrita deste livro passa por essa ideia de, custe o que custar, identificar aquilo que queremos, aquilo que nos faz correr, e correr por isso, sem possibilitar a desmobilização», prosseguiu o autor.
Quando questionado sobre uma eventual intenção didáctica na escrita deste livro, Valter Hugo Mãe foi peremptório: «Não quero que os leitores achem o que eu acho. Quero que achem alguma coisa. Não quero ensinar nada com os livros. Quero que os livros estejam disponíveis e que sirvam para que o leitor, ao sentir-se seguro dentro desse mesmo livro, nessa intimidade, se proponha a uma leitura honesta e pense nos assuntos sem medo».
Sobre um retrato hiperbolizado que faz de Portugal no seu livro, o autor defende a sua decisão. «Opto por um lado caricaturado. Faço uma ilusão para melhor se perceber o que estou ali a tentar definir. Faço o retrato de um Portugal que ainda existe mas, com a caricatura, amplio a questão para entrar dentro das pessoas, para ir ao encontro do que às vezes pensamos mas não dizemos», referiu Valter Hugo Mãe apontando: «Devemos ter a honestidade para connosco de não nos tentarmos convencer do que não pensamos».
Valter Hugo Mãe publicou cinco romances: O filho de mil homens (2011), a máquina de fazer espanhóis (2010) o apocalipse dos trabalhadores (2008), o remorso de baltazar serapião, vencedor do Prémio José Saramago (2006) e o nosso reino (2004). A sua obra poética está revista e reunida no volume contabilidade (Objectiva/Alfaguara, 2010).
É também autor dos livros para os mais novos: O rosto (Agosto 2010), As mais belas coisas do mundo (Agosto 2010), A verdadeira história dos pássaros (2009) e A história do homem calado (2009). Escreve a crónica Autobiografia imaginária no Jornal de Letras.
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