“Não temos que andar a mendigar”
Afirmaram pessoas portadores de deficiência na audição promovida pelo BE
A audição que a candidatura de cidadania, apoiada pelo BE, realizou no passado domingo foi para a candidata à presidência da Câmara Filipa Filipe “muito interessante e demonstrativa da necessidade de novas medidas de inclusão das pessoas portadoras de deficiência: a criação de um gabinete de apoio ao cidadão e à cidadã portadora de deficiência; contratação de intérprete de Língua Gestual Portuguesa para atendimento nos diversos serviços públicos em horário definido; destinar verba do orçamento municipal em pelo menos 3% para obras de adaptação; melhorias ao nível dos acessos nas vias; maior fiscalização de incumprimentos e aplicação de coimas de acordo com decreto de lei 163/2006; disponibilização de informação escrita (como actas, regulamentos, revistas e folhetos) em formatos alternativos (braille, caracteres ampliados, leitura fácil, etc) e acções de sensibilização”.
Ana Simão, escritora, autora de vários livros entre eles “A Menina dos Ossos de Cristal“ que faz parte do Plano Nacional de Leitura, referiu que “só após o seu acidente e ter ficado em cadeira de rodas sentiu as enormes dificuldades na mobilidade em Santarém. Houve uma simpatia da parte dos órgãos e titulares autárquicos, fizeram-se fotos e levantamentos, mas passados dois anos a resolução dos problemas não se concretizou. Vim de S. Domingos, correndo riscos, passeios sem rebaixamentos, podemos ter um acidente devido às acessibilidades serem um dos muitos problemas”. “Apoio a ideia da Filipa Filipa de se criar um provedor das pessoas portadoras de deficiência. Tenho familiar a quem tenho de dar apoio, é muito difícil às pessoas portadoras de deficiência conseguirem apoiar os seus familiares. O projeto de vida independente é mesmo muito importante e não pode existir só em Lisboa, é necessário que seja alargado a outras localidades como Santarém”.
Eduardo Jorge, ativista tetraplégico, que foi de Abrantes a Lisboa em cadeira de rodas, referiu a “importância da vida independente das pessoas portadoras de deficiência e da responsabilidade do Estado e das Câmaras no apoio às pessoas portadoras de deficiência”, valorizando as propostas do BE nesta área. “As pessoas tetraplégicas recebem pensões muito baixas que dificultam imenso a nossa autonomia enquanto pessoas. Não temos que andar a mendigar, a ser os coitadinhos de mão estendida, não nos podemos contentar com 264 euros de pensão. Nós, pessoas portadoras de deficiência temos muito mais despesas do que as pessoas ditas normais. Ninguém usa fraldas porque quer, o governo só estabelece 1,24€ como se estivéssemos em cuidados continuados; ninguém usa cadeiras de rodas porque quer (…) não estamos a reclamar por gosto, reclamamos por direito. A dignidade é um direito” disse. “Temos o direito de escolher as nossas assistentes pessoais… É necessário expandir os Centros de Apoio Vida Independente (CAVIs) como já se lançou em Lisboa” afirmou Eduardo Jorge.
Hugo Parreira destacou a “necessidade da comunidade surda se organizar, impulsionar o seu ativismo, responsabilizar as autarquias pelo seu apoio às pessoas surdas” e declarou o seu apoio às propostas de Filipa Filipe e da candidatura apoiada pelo Bloco. “A introdução de intérpretes de língua gestual é fundamental para dar apoio nos serviços públicos” explicando depois a complexidade no atendimento médico. “Há um protocolo da Federação das Associações de Surdos com o sistema judicial, mas é muito restrito a algumas áreas. Imagine-se agora um surdo com problemas motores… As Câmaras precisam de ter um levantamento de onde residem pessoas surdas: como se alerta um surdo por exemplo num dos incêndios que têm ocorrido?
André, pessoa da comunidade surda scalabitana, valorizou a postura do BE e criticou os outros partidos por ignorarem os surdos. “Temos dois problemas essenciais aqui em Santarém: eu vou sozinho, sou surdo e é uma dificuldade quando tenho necessidade de ir ao médico, somos capital de distrito mas essa capitalidade não se reflete nas necessidades das pessoas; um 2º problema são os transportes, por exemplo na estação de comboios não há informação escrita, como é que eu sei se o comboio está atrasado? Tenho de olhar para as outras pessoas para ver a reações delas. Se as pessoas vão para a linha eu também vou…Nas finanças é outra grande dificuldade para explicar as nossas necessidades” exemplificou.
O evento teve a presença do líder parlamentar do BE Pedro Filipe Soares, contou com variados depoimentos e a passagem de um vídeo (https://www.facebook.com/pg/besantarem2017/videos/?ref=page_internal) do candidato bloquista Vitor Rodrigues percorrendo na sua cadeira de rodas várias arteiras da cidade para demonstrar os obstáculos que as pessoas portadoras de deficiência têm de enfrentar.