Por: Ana Fonseca da Luz
Sintonia
É escusado esconderes-te, eu até te adivinho…
Estou de costas para ti, debruçada sobre a tela ainda em branco e consigo sentir os teus olhos na minha nuca.
Engraçado como pensas que não te presto atenção. Como pensas que me és indiferente. Sempre pensei que me conhecesses melhor…
A alça do vestido cai-me despreocupada do ombro nu e sinto que o teu coração se esfrangalha. Gosto de te saber assim, impaciente, expectante e perversamente meu.
Há anos que nos une um amor sem tamanho, desde crianças, não é?
São tantos os anos e tanta a cumplicidade que eu te adivinho da mesma maneira que tu me adivinhas a mim.
Sei ler os teus olhos, do mesmo modo como sei ler um livro, e tu lês-me os gestos do mesmo modo que eu te leio os olhos.
É tão bonito este nosso amor!
Tão desinteressado e genuíno!
Esta é a vida que sempre sonhei.
Sem nós, só laços…
Sem ter de filtrar as palavras, os gestos…
Sem teatros e encenações…
As nossas sintonias são tantas como as alvoradas em que permanecemos no escuro, de mãos dadas, saciados um do outro.
E como eu até te adivinho...
Adivinho agora o teu abraço perfumado e tu adivinhas-me o que nunca te direi…
Não te digo nada, porque, no nosso caso, o nada é tanto…
Por: Ana Graciosa
Os que não a merecem chamam-lhe anjo, os corretos chamam-lhe demónio...
Ame, grite, cante, sorria, dance, iluda-se, odeie, viva, chore, brinque… Mas, não tenha limites para as boas ações e viva de atitudes.
Não seja cruel e egocêntrico, ao "punir" alguém que não merece "sofrer", pela mágoa ou dor que alguém já lhe causou.
Não se engane a si mesmo e, não permita que ninguém entre no seu coração, sem sarar primeiro a cicatriz deixada por algo ou alguém.
Ninguém deveria pagar pelos erros cometidos por nós ou por outrem, por isso, tente reconstruir-se, caminhe sozinho e de forma saudável, para não ferir ninguém, da mesma forma que o possam ter feito consigo.
Hoje eu sei.... Quanto mais se vive, mais percebemos o impacto que as atitudes têm na vida...
Que a "dor" faz parte do crescimento, e só assim é que aprendemos.... mas, há que apreender e crescer, de forma correta e honesta, baseado nos bons valores e nas atitudes, que nos diferenciam dos demais.
Sei que na mentira, o que mais custa é quando descobrimos a verdade e nos acusam injustamente de "infiltrados" porque descobrimos o que não era suposto ser descoberto...
Oscar Wilde dizia que viver é a coisa mais rara da vida, porque a maior parte das pessoas, apenas existe... Felizmente alguém Vive!
Assim como MM dizia que a desilusão é simplesmente parar de acreditar que se é mais esperto que os outros...
Por: Antonieta Dias (*)
Doente sem abrigo no Natal de 2017
Não podemos adivinhar, muito menos prever as condições em que estaremos no próximo dia de Natal de 2017.
Podemos tropeçar num momento de sorte e criar as condições para uma passagem de Natal Feliz, todavia podemos ter o azar de não encontrar um abrigo e teremos que ficar sozinhos, ausentes da Família e internados num Hospital.
Este é um dilema que podemos vivenciar em qualquer dia do ano, pois a Saúde, a Fama e a Fortuna são efémeras.
Quando encaramos o futuro não sabemos se vamos ou não propeçar na Felicidade, é uma incógnita, uma imagem, uma incerteza que nos deixa por vezes inseguros.
Não são os acontecimentos passados, os projetos, muito menos os objetivos que nos alicerçam e nos oferecem as garantias de que a nossa vida terá sempre um abrigo, que nos acolherá e nos ajudará a percorrer o caminho mais ou menos floreado pela experiencia emocional vivenciada que desafiará o desejo de criar um sentimento comum onde o esforço para a procura da felicidade não terá fim.
Se o sentido da Vida Humana tem como pilar a Solidariedade então podemos acreditar que não ficaremos sós em nenhum dia, nem tão pouco no Natal de 2017.
Quando se pergunta ao doente se a dor de ficar só é tolerável ele responderá “ não é impossível, não consigo aguentar a solidão”. E como vamos então mudar o conceito do sofrimento? Talvez procurando uma resposta num mundo imaginário suficientemente audaz e claro onde o compromisso é visto com óculos cor-de-rosa, onde a realidade não passa de ilusão, onde a necessidade da dor, da perda, da rejeição encontra o equilíbrio conflitual entre reconhecer que ignorar é mais importante que dar conforto e prazer aqueles que sofrem em silêncio, que eram ricos porque tinham saúde e agora se encontram fragilizados, abandonados, isolados e sem Família que os apoie.
Mas se é este o fracasso do doente, quantos de nós serão capazes de inverter os caminhos, de enfrentar e combater esta realidade?
Certamente muito poucos. Mas se todos uníssemos os esforços e conseguíssemos despir o véu do egoísmo / individualismo, deixaríamos de viver uma ilusão e construiríamos uma Sociedade Justa e Perfeita.
Talvez este apelo faça crescer na nossa Alma a necessidade de termos mais responsabilidade e fraternidade social e em vez de ficarmos mergulhados no nosso ostracismo, passemos a ser intervenientes ativos, confiantes das nossas capacidades e peregrinos da Luz que ilumina a prática do Bem.
Este é o caminho que temos que desbravar, fazendo da receita o apoio incondicional e o medicamento milagroso, que traduzirá festejar o Natal apoiando os doentes que vivem sós, com a prática do voluntariado dos que não ficam indiferentes ao sofrimento e ao isolamento do doente.
Mas não é por ser Natal que seremos Solidários, já que a nossa missão é Servir é dar a mão, é apoiar e este ato de Servir deverá ser praticado todos os dias, ensinado e transmitido com orgulho dando a mão a quem não a pede mas a deseja.
Se conseguirmos ver mais claro o horizonte e dermos mais atenção aos Seres Humanos passaremos o conhecimento da nossa mente que é brilhante, para a ação em que ajudar se torna no desejo de obter o mais elevado grau da Sabedoria que só se atinge se conseguirmos cruzar Amor com partilha de Felicidade, Alegria e Harmonia.
(*) Prof. Doutoura na Faculdade de Medicina do Porto