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Artigo de Opinião
Por: PedroMiguel Gaspar
Incontáveis são as vezes que amaldiçoamos o nosso fado. Não o Fado cantado em jarros de vinhos e em cama de chouriça assada, antes aquele fado que abraçamos como marca indelével da fatalidade do nosso destino como povo e como nação.
Temos, à mesa, ou à falta dela para fazer a vontade à metáfora, outra crise económica para partilhar. E o fado gingão que brinda a partilha em copo cheio, enegrece num fado triste quando o vinho escasseia e da chouriça só o pão molhado.
Partilhar as facilidades e as dificuldades é uma arte, louvem-se os casais com mais de 7 anos de casamento. Em termos de Nação, essa é ainda arte maior. Nunca o soubemos fazer. Ainda mais tristes e cabisbaixos que o nível da normalidade Lusa, recorremos, primeiro, ao fatalismo para nosso bode de estimação. Depois vêm os políticos, depois os sanguinários patrões, os malandros dos funcionários públicos, os desempregados crónicos e, se a coisa se tornar mais grave, os inúteis dos velhos que nunca mais morrem para não estarem a comer à conta.
Passado o choque inicial vem o conforto da salvação. Afinal existe um pai que nos irá salvar. O “Pai-Estado”. Providente, misericordioso e complacente, o “Pai-Estado” ir-nos-á devolver o que por direito é nosso. Tem sido assim desde a fundação da Nação.
O “Pai-Estado”, no entanto, para socorrer os seus desafortunados filhos, tem tido sempre um Pé-de-Meia. Começou por uns bons casamentos e dotes na corte europeia, trabalhou no Brasil, África e Ásia e vendeu Volfrâmio a um amigo Alemão enquanto abraçava um amigo Americano. Recentemente, foi admitido como sócio no Clube Europeu. È certo que a mesada do Clube foi muito boa e distribuída por alguns filhos, no entanto, e para isso, teve de vender a Agricultura ao amigo Francês e as Pescas ao amigo Espanhol.
Vendidos os anéis, ficaram os dedos. Dedos que serviram, por estar o “Pai-Estado” sem emprego há muitos anos, para pedir dinheiro emprestado aos amigos. Como quem vai ficando a dever na mercearia. A isto chama-se divida externa.
Como não se pode endividar mais, o “Pai-Estado” tem de cortar na mesada dos filhos. A isto chama-se redução da despesa