Por: Ana Fonseca da Luz
Avó
Que estradas são essas que te atravessam a cara, num labirinto onde me procuro todos os dias?
E quem foi que te pôs esse mel nos olhos, e te encheu a boca de beijos que todos os dias deixas no meu rosto, tão fresco?
E essas mãos cansadas e curvas que me afagam, quem tas abençoou?
E esses braços finos que me embalam e me adormecem todas as noites, são braços ou asas?
E porque choras quando te despedes de mim, como se aquele fosse o teu último beijo, o teu último abraço?
E esse cheiro a alfazema que repousa em ti, quem to deu, para meu consolo?
Quem és tu, avó-pingo-mel?
Quem te inventou só para mim?
Quem foi que te embalou a ti quando a tua cara era lisa, e as tuas mãos eram ramos frescos e seguros?
E quem te levou de mim, avó,, mas te aprisionou para sempre no meu coração?
Avó, quem foi que te ensinou a ser mãe-ternura?
Que estradas são essas, avó, que hoje te atravessam o rosto e que um dia, um dia, me levarão até ti?
Avó…deixa-me ser o teu sorriso, a tua luz, a tua eterna canção.