Por: Marina Maltez
Mariana Sampaio tem 25. Concluiu a licenciatura e mestrado em Artes Plásticas na Escola Superior de Artes e Design.
Até aqui pode parecer um caso típico, entre tantos, de quem investe nos estudos, mas depois acaba a exercer outras funções. Mas a verdade é que Mariana terá nascido bafejada pela Sorte e pelo enorme talento que o Tempo foi mostrando e fortalecendo.
Segura de si, confiante e com os pés bem assentes na terra a jovem recorda: “Em 2013 fui seleccionada para o Concurso Internacional Jéunne Creation Europpenne, juntamente com mais cinco artistas portugueses para representar Portugal numa exposição itinerante pela Europa, que durou dois anos. França, Maastricht, Hungria, Itália, Figueras e Amarante, em Portugal. Quando saíram os resultados não quis acreditar, pensava que se tinham enganado! Eu iria mesmo fazer parte deste projecto e por isso procurei estar presentes nas inaugurações em países estrangeiros, para fazer contactos e conhecer galerias de arte”.
Algum tempo depois novo convite: uma das suas fotografias foi exposta na Galeria EIXO, no Rio de Janeiro, Brasil, juntamente com trabalhos deartistas sul americanos. A jovem portuguesa começava a afirmar-se e o seu trabalho tornava-se uma referêcia.
Recentemente a jovem goleganense foi seleccionada para expor em Londres, na maior feira de arte contemporânea para artistas independentes: a ArtRooms. A selecção é rigorosa. São pré-seleccionados 800 artistas. Mas apenas 78 passam . Uma parte é escolhida pelo júri, outra parte por entidades relacionadas com o mundo artístico e apenas um artista pelo voto do público. “Graças ao apoio que recebi dos meus conterrâneos, dos caldenses e de todas as pessoas que votaram em mim, fui escolhida. É muito difícil descrever o que senti ao ganhar este concurso, fui expor numa das maiores e mais importantes cidades do mundo, um dos maiores centros de arte contemporânea actuais, na cidade que respira arte e onde os artistas são valorizados. Foi incrível, não só por ter exposto lá, mas porque não esperava ser tão acarinhada, compreendida e congratulada.”
Impõe-se a questão: foi expor apenas e o público poder usufruir das obras de arte? Enganam-se caros leitores. Este concurso é quase uma missão impossível, um desafio megalómano. É que na verdade cada artista tem que mostrar o seu trabalho num quarto de hotel (Meliá White House Hotel) mantendo o mobiliário do mesmo.
“É importante referir que a instalação é feita com materiais maleáveis como pele sintética, carpete e feltro, entre outras, e que estes cobriam todas as superfícies, desde o chão, paredes, superfícies e tecto. O maravilhoso é que o público podia mesmo pisar a instalação, tocar-lhe e sentir-se parte da obra. E foi exactamente isso que as pessoas sentiram, e é óptimo quando a mensagem que tentamos transmitir ao público é passada com sucesso.”
Mariana Sampaio foi aclamada pela organização e pelo público, dando um passo gigante na sua carreira, já que no concurso estavam presentes grandes nomes da arte como Maria Baldshaw, directora da Tate Modern, um dos melhores museus de arte contemporânea e onde a jovem sonha expor a sua obra um dia.
«Mariana Sampaio»
Com uma obra considerável atrevi-me a perguntar qual a que mais a marcava. A resposta não me espantou vindo de alguém que vê no trabalho um prazer: “Os meus trabalhos são todos muito importantes para mim, gosto de todos eles por razões diferentes. Todos me marcaram! Mas se falarmos no que me deixou mais orgulhosa terá sido a Shadow’s Mingle, a peça seleccionada para o JCE 2013/2015 e que também esteve presente do ArtRooms 2017”.
Há uma questão que se coloca a todo o artista. Qual a sua inspiração. A jovem foi categórica, revelando que continua a ser a menina doce que na terra todos viram crescer com fibra, garra e determinação: “A minha inspiração é a minha família e todas as experiências que passei na infância, tudo o que aprendi marcou claramente a minha produção artística. Não é por acaso que grande parte do meu trabalho é feita em materiais maleáveis e de fortes ligações ao universo tradicional da costura e dos bordados. Afinal, rodas as mulheres da família são costureiras, é algo enraizado na cultura portuguesa: a tradição de ensinar as jovens certos costumes, um deles a costura. O meu trabalho inspirado nesse costume é uma visão contemporânea e moderna de algo que está ligado ao artesanato e ao tradicional. A família é sempre uma fonte de inspiração, e no meu caso eu sou o meu trabalho e o meu trabalho sou eu”.
Dizem que o segredo é a alma do negócio, mas para esta artística plástica a transparência é qualidade ímpar: “De futuro pretendo abrir o meu próprio atelier, ondo vou produzir ao vivo, dar aulas, ter uma pequena galeria para expor peças minhas e de outro artistas. Procuro criar o meu próprio posto de trabalho e ajudar outros artistas também”.
Numa geração marcada pela inércia, pelo “deixa andar”, Mariana Sampaio é mais que uma artística plástica, é um exemplo de que querer é poder. E que com esforço, determinação e muita entrega ao que se faz é possível tornar possível os nossos sonhos.