Por: Ana Fonseca da Luz
Recordações
Trago na memória ecos de outros tempos, que jamais a borracha do tempo conseguirá apagar…
Lembro os velhos tempos, passados à lareira, rodeada das imensas coleções que o meu pai fazia e que ele mostrava a todos os que visitavam a nossa casa, com um orgulho imenso.
Lembro o sorriso sempre sereno e afável da minha mãe que, preferia mil vezes, ficar no primeiro andar a ler, do que acompanhar o meu pai às touradas e às fadistices que aconteciam lá em casa, e que se prolongavam noite dentro.
Lembro-me de ser pequena e na Quinta Feira de Ascensão ver alguns toureiros vestirem-se no quarto dos meus pais, antes de irem para a praça de toiros.
Mas o momento alto foi quando o Grande Mestre Batista, uma Quinta Feira de Ascensão. foi lá a casa.
Lembro-me de, muito corada e envergonhada, lhe ter pedido um autógrafo e de ter pensado que nesse momento ia morrer de felicidade, só por ele me ter dado um beijinho e de ter deixado um maravilhoso autógrafo no livro do meu pai, que era uma autêntica relíquia e onde figuravam tantos nomes dessas lides tão ribatejanas e que ele simplesmente adorava.
Lembro-me de orgulhosamente falar dos forcados da minha terra, e achar que eram os homens mais valentes do mundo.
Depois, lembro-me de todos os amigos que passavam tardes na minha casa, a ouvir música e de eles acharem que os meus pais eram diferentes dos deles, porque a nossa casa estava sempre cheia de gente.
Lembro-me de ouvir, Amália, Maria Teresa de Noronha, Teresa Tarouca, Adamo, Brel, Gilbert Bécaud e tantos outros, que faziam parte das músicas preferidas do meu pai.
Lembro-me de tal maneira desse passado, que às vezes chego a pensar que é um filme que eu vejo e volto a ver sem nunca me cansar.
Trago na memória bocadinhos da minha vida, que não trocaria por nada deste mundo…
Beijos para todos os amigos, que tantas vezes estiveram na minha casa e que eu sei, jamais a esquecerão…