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Por: Florbela Gil
Vou começar por definir Célia, como uma pessoa muito sensível, foi até hoje a aluna que mais me marcou a nível profissional.
Célia, nasceu surda-muda, assim como sua irmã.
Apesar de serem diferentes, as irmãs, estudaram como todas as crianças, claro com ensino próprio, o braille, mas também sabiam ler normal e escrever. Quando eu digo ler, não é no sentido do som das palavras.
Célia, queria tirar a carta. Eu fiquei apreensiva com essa situação.
O pai dela veio falar comigo, trazia o atestado médico para o efeito, com as devidas restrições que a situação acarretava.
Fez-se a inscrição na escola. Celia podia começar a assistir às aulas de código.
E agora? Pensei eu! Como vou fazer para ela me compreender?
Ler nos lábios, às vezes ela conseguia, mas era nas pessoas que lidavam muito com ela,.
Então eu escrevia no quadro o que explicava, canetas, e mais canetas, gastas de tanto escrever, pedindo aos colegas, compreensão por ser uma situação diferente.
Às vezes dava por mim a falar alto de mais pensando que assim ela me ouvia. Até que me ria sozinha com a situação.
Era uma doçura de menina, muito meiga, mas também se assustava com muita facilidade, qualquer som mais forte ela sentia as vibrações e estremecia.
Passaram uns meses (dois ou três) e pedi o exame código. Chegou o dia.
Três de março de 1995, Célia fez exame, entre tanta gente, umas saiam reprovadas, outras saiam alegres, Célia foi uma delas. Desceu as escadas, agarrou-se ao meu pescoço a chorar, de tanta alegria que sentia, e orgulho dela mesma, assim como eu estava, vaidosa da minha menina.
Outra etapa esperava, a nós as duas, sim porque, temos um trabalho pratico. Tanto gesto, que tive que inventar no carro para lhe dar a entender o que queria, depois uns coincidiam com outros, toca de trocar por outros, todas as aulas eram um desafio para mim.
Uma vez, estava numa subida, e ela ao começar a andar com o carro, deixou ir abaixo, um outro condutor que entretanto tinha chegado atrás dr nós, buzinou,. Incrível a reacção dela. Sentiu o som, e fez cara feia para mim, como quem diz, "que mal criado".
Maio de 1995, dia do exame prático. Começamos as aulas cedo, sempre bem disposta, vi um sorriso pendurado no rosto, e olhito bem aberto, para tudo ver, inclusive os erros das colegas que com ela andavam a dar aulas, a Paula e a Susana, que tentavam sempre ajuda-la .
As colegas, fizeram exame primeiro. Chegou o carro, elas saíram a rir, pois tinham passado, o que deu mais força a ela.
16.horas Célia começa o seu exame, eu assisti, fez tudo muito certinho. Quando acabou, olhou para mim, levantou o polegar,. Acenei com a cabeça um sim , junto com um sorriso de orgulho. Mais uma vez aqueles braços me envolveram com muito amor e carinho, juntamente com lágrimas de alegria.
Sabem o que se dizia naquela altura, pelo fato de ela e a irmã terem o problema da surdez?
Vejam bem,: dizia-se que a mãe era muito religiosa, mas o pai era contra a fé da esposa, e que um dia deitou fora todas as imagens dos santos porque não queria a mulher a falar para quem não falava. Então Deus castigou-o, dando- lhe duas filhas que não falavam, mas que eram o orgulho dele.
O ditado diz, Deus escreve direito por linhas tortas,.
Bem hajam meus amigos/as leitores