Por: Ana Fonseca da Luz
UMA ESPÉCIE DE DOR
Um dia, sem mais nem menos, damos por nós agonizando, espremendo os minutos para que o dia acabe e o nosso corpo se apague no sono, na cama partilhada, mas onde estamos sozinhos, porque o amor, essa coisa que deveria ser eterna, se esvai silencioso e sem se compadecer da exuberância que um dia nos deixava febris e inquietos. Onde apenas um olhar nos quebrava a força nas pernas, nos secava a boca e nos humedecia o olhar, como se chorar fosse a melhor das coisas. Chorar de amor é a melhor coisa que existe…
É por isso que tenho medo desta entrega que me exiges, destes labirinto de sentidos que hoje nos comandam a vida, mas que um dia adormecem, tal como a chama que se esvai da lareira que, silenciosamente, se apaga.
Não te sei amar como mereces e no entanto amo-te tanto.
Mas o amor dói…
Por isso, se o ignorar, se o relevar para segundo plano, quando ele se esvair, a dor vai ser menor.
Percebes agora este meu medo da dor?
Percebes agora o que dói o amor?
Não é amar, aquela entrega sem limites, que dói. É a dor do acabar e de ficar o nada, ou aquele sentimento amolecido e insípido que todos nós já provámos e que nos seca os olhos e nos pesa no coração, tanto, tanto que dói…
Não me posso entregar como queres, porque um dia me vais deixar de amar e eu a ti…
E então, reparo agora, que tens razão. Chegamos ao nosso fim, não por falta de amor mas por nos amarmos tanto.
O amor dói… e é tão boa esta dor que a quero sentir para sempre, por ti…
Eu sei que não vais compreender-me nunca, que para ti serei sempre um livro que se lê e relê, e se fica com a impressão de que não tem fim.
Eu sou um livro incompleto…
Mas quero que me leias e voltes a ler até que me percebas…
O amor é esta espécie de dor, que dói, mas que me agrada.