Por: Ana Fonseca da Luz
Dedicado à minha neta e escrito há muito tempo.
Laços
Anseio pela tua chegada. É como se, durante estes quarenta e cinco anos, não tivesse feito mais nada senão esperar-te. É como se só tivesse nascido para isto. É como se tu fosses o motivo da minha vida. Conto os dias num calendário imaginário que tenho na minha cabeça e todos os dias, mal acordo, faço uma cruz com uma caneta cor-de-rosa, lembrando assim que já falta menos um dia para te ver. Para te conhecer. Anseio chamar-te pela primeira vez, dar-te o primeiro beijo e lançar-te um feitiço, para que sejas feliz todos os dias da tua vida, até ao dia, já velhinha, em que a tua alma seja um grãozinho de pó brilhante.
Inês foi o nome que os teus pais escolheram para ti. Gostei. É um nome pequenino que se diz de um sopro. Inês!...
A primeira história que te vou contar vai ser a primeira que contei à tua mãe. Ela já não se lembra, mas eu nunca me vou esquecer. A história da Carochinha. Foi a primeira história que a minha avó me contou e que, de tantas vezes me contar, eu já sabia de trás para a frente, mas que dava sempre prazer ouvir. A ti vai-te acontecer o mesmo. Vais-me pedir vezes sem conta para eu te a contar, sempre à espera que o João Ratão tenha um fim diferente. Mas não. O João Ratão vai mesmo cair no caldeirão e tu vais rir sempre no fim e dizer: “Ó avó, conta outra vez!” E eu juro, juro que vou contar todas as vezes que me pedires, porque tu és a razão da minha vida.
Passaram quase dois meses. Já nasceste. Alguns dias antes do previsto. Isso mostra que tens génio. Mostra que vais ser uma mulher de fibra, que vai sempre levar a tua avante.
És linda! Pequenina e linda! Pus-te a alcunha de Pipinha e canto-te vezes sem conta a mesma canção, que tu já pareces conhecer. Tens uns olhos escuros e lindos e um cabelo ralo, como tinha a tua mãe, quando nasceu. Não me canso de olhar para ti! Estou mais rica! Muito mais rica!
Conta comigo, Inês. Estou aqui sempre, para o que der e vier...
P.S. Amanhã a Pipinha faz três anos. Ela é mais do que tudo aquilo que eu mais queria e ansiava. É um poema de Amor, quando me diz: “Vó Paula, gosto de ti até à lua!”
Por: Ana Graciosa
O que é feito de ti?
Queria dar-te o que mais ninguém te deu,
Reacender, a luz da escuridão onde mergulhaste e teimas em não sair,
Voltar a aquecer lentamente, o gelo entranhado no teu coração,
Sarar as tuas dores ou fazer com que fossem levadas para longe,
Num simples gesto, fizeste-me acreditar… Na falta dele, tornaste-o irreal…
Acredito que um dia, aquilo que não procuramos, vai encontrar-nos quando menos esperamos,
A minha vida foi sempre vivida de “tudos” e de “nadas”, embora alguns desses “nadas” fossem cheios de “tudo”, e também eu não consegui aceitá-los…
Só depois, quando se consegue dar valor às pequenas coisas da vida, se percebe e entende, o que perdemos quando nos falta a capacidade de olhar e ver novas oportunidades, de sermos felizes...
Hoje acordei desprovida de sonhos e sem vontade de nada,
A tua ausência e a cruel indiferença, não conseguem matar as saudades que tenho de ti... de um “bom dia” e um carinho... que era tudo, do nada que tinha…
Um dia misturo os meus medos, com a tua forma inconstante e complicada de ser, e deixo-os à deriva num barquito à beira Tejo,
Tudo o que te digo não tem nem filtros, nem pretensões, nem maldade, nem vaidade, nem lamúrias… são somente sentimentos puros de uma vontade e desejo de ti, que me tolda o pensamento e me faz perder a razão.
Queria tanto oferecer-te o mundo se pudesse….
Sei que todos os dias, aprendo... esqueço... mas a maior parte das coisas, agradeço!