O Comando Territorial de Santarém, através do Destacamento Territorial de Coruche, ontem, dia 06 de julho, deteve três mulheres e dois homens, com idades compreendidas entre os 21 e os 47 anos, por tráfico de estupefacientes, na Amadora e Coruche.
Nesta operação, que teve origem numa investigação que decorria há vários meses por tráfico de estupefacientes, culminou ontem com a detenção em flagrante delito de dois suspeitos, na Amadora, quando estes estariam a transacionar produto estupefaciente e, em simultâneo, na realização de cinco buscas domiciliárias, em Coruche, onde foram detidos os restantes três suspeitos.
No decurso das diligências foram apreendidas:
· 308 doses de heroína;
· 200 doses de cocaína;
· Duas armas de fogo;
· Quatro viaturas;
· Diversos telemóveis.
Esta operação do Núcleo de Investigação Criminal do Destacamento Territorial de Coruche, foi reforçada por militares dos Comandos Territoriais de Santarém e de Leiria, da Unidade de Intervenção, num total de 77 militares empenhados.
Presentes a 1.º Interrogatório Judicial no Tribunal Judicial do Cartaxo, três dos detidos ficaram em prisão preventiva, sendo aos outros dois aplicadas apresentações.
A Câmara Municipal vem informar que no dia 8 de julho, domingo, vão estar encerradas as Piscinas Municipais Descobertas.
O encerramento deve-se à impossibilidade de, neste dia, garantir a presença do número suficiente de nadadores-salvadores no cumprimento do exigido legalmente – Lei n.º 68/2014 de 29 de agosto, regime jurídico aplicável ao nadador-salvador em todo o território nacional e a Portaria n.º 311/2015, de 28 de setembro, que estabelece os critérios e as condições para a prestação da atividade de assistência aos banhistas.
Os serviços municipais lamentam o incómodo que este encerramento possa causar e agradecem a compreensão dos(as) utilizadores(as) deste espaço público.
Por: Ana Fonseca da Luz
Verão quente
O Verão, naquele ano, ia realmente quente e por mais que a nossa ventoinha azul espalhasse vento pela sala, não havia jeito de nos refrescarmos ou de sentirmos algum alívio.
A minha avó, que vestia de preto dos pés à cabeça pela morte do meu avô, que nos tinha deixado há pouco mais de um ano, dizia-nos para não ligarmos e para não maldizermos o calor, pois era tempo dele e que rapidamente estaríamos a amaldiçoar o Inverno que era sempre tão rigoroso.
- Mas a avó não tem calor? – Perguntava eu em frente à ventoinha, acompanhado o seu movimento num vai e vem cansativo, mas que me divertia.
Já o meu irmão parecia indiferente aquele dia infernal e fazia birra porque queria ir para a rua brincar com os amigos, enquanto a minha mãe lhe mostrava, mais uma vez, o chinelo, o tal que tinha o poder milagroso de nos sossegar, pelo menos a mim.
- É claro que tenho calor, Teresinha, mas quando penso no frio que faz no Inverno e me lembro que vejo passar meninos para a escola de pés descalços, dói-me o coração. Ao menos no Verão podem correr de pés descalços pelo chão sem que eles lhes congelem.
As coisas que a minha avó sabia! As coisas em que ela reparava e eu não. Realmente, ela tinha toda a razão, na minha escola havia pelo menos duas meninas que eu já tinha visto descalças e outra que ia de sandálias no rigor do Inverno.
No dia em que vi aquelas meninas na escola sem sapatos, cheguei a casa e contei à minha mãe. Contei-lhe também que a professora Joaquina as tinha chamado para perto do seu pequeno aquecedor e as tinha deixado aquecer os pés.
- Mãe, mas como é possível não terem sapatos? Por que é que os pais não lhos compram? Que maldade!
- Não é por maldade, Teresinha, os pais é que não têm dinheiro para lhos comprarem, às vezes mal têm para comer…
- Mas não está certo, mãe! Por que é que o Salazar, que é quem manda em Portugal, como diz o pai, não lhes dá sapatos e comida? Vou dizer ao pai para lhe escrever uma carta.
O meu irmão, que nós até pensávamos que não estava a ouvir nada e que ainda se encontrava sob a ameaça do chinelo da mãe, levantou a cabeça e, olhando-me com desprezo, rematou:
- És mesmo burra! Então tu não sabes que o Salazar não gosta de pobres e só é amigo dos ricos?
A minha mãe olhou para ele de olhos muito abertos e a minha avó levantou os olhos do naperon branco que estava a bordar, ambas incrédulas com aquela conversa.
- Ó Pedro, mas quem é que te disse uma coisa dessas? Tu és parvo!
- Quem me disse foi o senhor Antunes da mercearia. Ele não me disse, eu é que o ouvi dizer ao Tónho Manco da taverna, quando fui comprar colorau à avó, que o Salazar era um malandro e um assassino e que tratava mal os pobres. O que é um assassino, mãe?
Na altura, não entendi o motivo da aflição que se instalou na sala e a gaguez que apanhou a fala da minha mãe e, então, foi a minha avó, sábia, muito sábia, que nos disse com uma voz trémula mas poderosa:
- Ouve bem, Pedro, estás proibido, proibido, repetiu, de voltares a falar do Salazar, e olha que eu não estou a brincar. E tu também, Teresinha, ai de vocês que repitam o que quer que oiçam dizer do Senhor Dr. Oliveira Salazar. E olhem que eu não brinco em serviço. Se esta conversa se repetir cá em casa, ou onde quer que seja, vocês vão ver o meu chinelo a trabalhar no vosso rabo.
Nem eu nem o meu irmão dissemos nada. É que nunca tínhamos visto a nossa avó virada do avesso e nem sabíamos que ela também sabia dar uso ao chinelo, mas pareceu-nos tão convicta, que achámos melhor não a provocar, e o assunto, Salazar, passou a ser tabu lá em casa e até fora dela.
Minto, eu e o meu irmão, nessa noite, quando estávamos a apanhar a fresca no jardim, eu a beber uma laranjada e o meu irmão uma gasosa, muito baixinho, não fosse a nossa avó ouvir e pôr o chinelo dela a trabalhar, ainda falámos do assunto, Salazar.
- Bolas, a avó deve ser mesmo amiga do Salazar, disse o meu irmão coçando o nariz por causa do gás da gasosa, viste como ela não nos deixa falar mal dele?
- Pois, se calhar tens razão. Ela está sempre a dizer que não podemos dizer mal dos nossos amigos, por isso, aquilo deve ser uma amizade antiga. Ele já é velho como a avó. Se calhar, até estiveram para casar, pus logo eu a minha tão fértil imaginação a trabalhar…
- Eu cá nunca mais falo do homem, rematou o meu irmão soltando um arroto que nos fez rir desalmadamente.
- Nem eu, bolas!
- A tua gasosa está boa?
- Está, mas está morna. Parece o chá da avó, mas com bolinhas.
Mais gargalhadas rebentaram no ar naquela noite de Verão.
À soleira da porta, também a apanhar o ventinho que finalmente se levantava, depois de mais um dia abrasador, ouvi o meu pai dizer para a minha mãe:
- Estes nossos filhos são realmente a nossa maior riqueza e não há Salazar, por mais malvado que seja que acabe com a nossa família. Somos uns privilegiados em nos termos uns aos outros.
O meu irmão não percebeu nada da conversa, mas eu, que já era uma mulherzinha de doze anos, percebi, por A mais B, que se o Salazar era malvado, conforme o mau pai dizia, não podia ser amigo da minha avó que era uma mulher boa e carinhosa, com um colo delicioso, onde eu ainda gostava de aportar quando o sono chamava por mim.
E pronto, Salazar foi palavra que nem eu nem o meu irmão voltámos a pronunciar naquela casa, a não ser uns anos mais tarde, quando ele morreu, e ficámos três dias sem televisão.
Raios partissem o Salazar que até depois de morto nos dava cabo da vida.
«In “Gente feliz com estórias felizes”»