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Esta foi uma noite memorável, mais uma sala lotada no Teatro Sá da Bandeira, com o espectáculo “Depois do medo” de Bruno Nogueira.
Bruno Nogueira volta à solidão do palco e diante de uma plateia que apenas desejava a possibilidade de rir. Não desiludiu. Ele conseguiu provocar todo o tipo de risos e gargalhadas com o humor, que lhe é característico.
“Depois do Medo” foi construído a partir da abordagem a questões “que só incomodam pessoas que têm demasiado tempo livre”. Foi um discorrer de vários temas interessantíssimos. Um encantador processo mental.
Este espetáculo concretiza o regresso de Bruno Nogueira à escrita de sinopses e à comédia informal que o celebrizou no programa “Levanta-te e ri”. Durante cerca de 90 minutos, o argumentista, o ator e a personagem apresentaram-se fundidos e deliberadamente confundidos, à espera do reconhecimento que uma simples gargalhada encerra.
Por: Catarina Betes
O melhor de cada um de nós é um enigma
Acreditamos que damos o máximo, tudo o que podemos dar. Nas poucas vezes em que me senti à vontade para admitir intimamente e confrontar alguém sobre as incertezas que sempre me assolaram, fui surpreendida com certezas.
- Dou o melhor. Não tenho dúvidas disso. – obtive como reposta.
Senti nessas circunstâncias uma inveja que não sei esclarecer. Porque também eu sempre busquei essa convicção. Quer na vida profissional, quer na vida pessoal. A certeza de que demos o melhor em todos os campos da nossa vida e que essa meta foi verdadeiramente alcançada.
Mas se a detivermos, o que sobra? Se nos consideramos perfeitos e completos, o que resta de nós nos outros, se tudo o que é possível está determinado e concretizado?
Admito que essa repentina cobiça, nunca me desgastou inteiramente. De algum modo, sempre senti que para sermos verdadeiros, não podemos ser os mesmos, todos os dias da nossa vida. Porque a ser verdade, não somos nem sentimos, num carreiro acanhado e estreito, numa linha reta ou pré-determinada. Sentimos o que vivenciamos e o que somos.
E de um modo pouco decifrável, somos também o que sentimos.
E então ergue-se a hesitação. Quer na vida pessoal, quer na profissional.
Quem serei eu hoje?
Serei eu, ou o outro? Qual dos dois será mais simples representar, fazer viver neste dia?
Que personagem resgatarei melhor, hoje, no palco da minha existência e dos meus dias?
A resposta é óbvia. O outro.
Porque o outro não se fragilizará, não se sentirá comovido, não se encolherá perante qualquer situação, porque o outro é mais forte e sabe certamente, desvincular a emoção da razão.
Alguns de nós sobrevivem a essa eleição. Não a pesam, nem a consideram.
Mas essa escolha tem um custo. Um preço que se mede no termo do dia, nos momentos que vivemos a sós, tantas vezes no meio do ruído, em que a angústia é superior à sensação de triunfo e à noção de dever cumprido.
Mas será o sucesso assim tão decisivo para a nossa tranquilidade?
Não será a firmeza e segurança de se saber autêntico e genuíno em posturas e afeições, superior?
Tudo nesta vida tem um preço. E a contrapartida a devolver pela franqueza e retidão é realmente alta. Dolorosa até.
Mede-se somente quando enfim, no sossego e conforto do lar e do sono, fechamos os olhos sobre aquela almofada que em determinados dias parece dura e pouco maleável.
Quando sentimos os olhos cerrarem-se calmamente e percebemos aquela inesperada maciez revitalizante, disfarçada por baixo de um rosto tantas vezes esgotado e vincado pelas arduidades e complexidades do dia.
E sem abrangermos prontamente porquê…, o nosso coração apazigua-se.
Porque no mais profundo da nossa alma, sabe que merecemos aquela quietude, porque fomos verdadeiros, ultrapassámos a tentação constante da frivolidade e da falsidade.
Perdemos… mas de algum modo, pouco visível aos olhos dos menos atentos, vencemos!
Porque demos tudo o que tínhamos para dar.