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Por: Catarina Nunes
A saudade tem nome?
Há quem creia que sim.
Revejo a saudade nos ramos da árvore, que espreitam o primeiro andar do edifício antigo, cujas raízes golpeiam implacavelmente o chão.
A força do vento faz baloiçar os seus ramos fortes e com ele oiço o som infindável do seu uivo, que clama por tempos antigos.
Saudade é divagar, é viajar dentro de nós mesmos.
Percebemo-nos dentro dela quando, inexplicavelmente, a nossa mente nos guia pelos caminhos longínquos do passado, sem que percebamos porquê, e nos golpeia o peito.
Circunstâncias supostamente insignificantes, que surpreendentemente preenchem um espaço e um tempo, em nós. Figuras que fizeram parte da nossa vida e que mal memoramos, surgem inexplicavelmente, na vigília do nosso espírito.
Espaços e momentos desmemoriados aparecem e com eles nos arrojam, como se, contra todas as possibilidades, ali pertencêssemos, gerando um trio e um todo extraordinariamente complexo: mente, espírito e pensamento.
A saudade não tem nome. Tem cheiro, sabor e cor.
Tem o cheiro da terra molhada, acabada de regar. Tem o cheiro de um dia de chuva, a um estojo de lápis novo, à escola a começar.
Tem o cheiro do café da avó acabado de fazer, na velha cafeteira, por baixo da chaminé antiga.
Tem o cheiro da maresia, numa manhã de verão, fria.
Sabe à doçura de um abraço carregado de ternura, ao afago e aconchego dos lençóis, ao deitar, no fim do dia.
Sabe à canja de galinha da mãe, que tudo cura, com amor.
Tem a cor do arco íris, num dia em que a chuva se cruza com o calor.
Saudade não tem nome, mas tem cheiro, sabor e cor.
Saudade cheira a um jardim colorido, a uma manhã de primavera a nascer. Sabe a um bolo caseiro com tempero de amor.
Tem a cor do pôr do sol, num fim de tarde de verão, que fecha o dia e aquece a alma. O coração.