Por: Catarina Betes
Desapego
Quando nos propomos a ter uma maior perceção da vida, do mundo e de nós mesmos, ocorrem diferentes mudanças.
Porque a forma como “nos” vemos, está diretamente relacionada com as nossas crenças e determina a forma como vemos, ouvimos e sentimos.
Quando ouvimos a palavra desapego, o nosso ego ressente-se.
Os nossos sonhos, as nossas relações humanas, tudo o que vivemos, tende na verdade, a ter apego.
Porque aprendemos que começamos e acabamos “Aqui”.
E essa ideia de finitude, faz com que nos agarremos, incessantemente, a tudo o que tem importância para nós.
Com medo do fim, com medo da perda, seguramo-nos às pessoas, aos sentimentos que temos por elas, às coisas, aos sonhos. Porque cremos que precisamos de tudo isso para sermos completos, felizes, satisfeitos, condicionando a nossa felicidade interior, a nossa plenitude interna, ao que está fora de nós.
Porque somos seres fisicamente focados. E precisamos de ter, tocar.
Mas a partir do momento em que criamos relações de dependência, estamos a sujeitar-nos a um vazio existencial.
Se o que precisamos está fora de nós, nunca seremos o suficiente para suprir as nossas necessidades, o suficiente para nos preenchermos do amor que tanto precisamos. Porque vamos procurá-lo sempre nos outros, nas coisas, na vida. Nunca em nós.
Foi assim que aprendemos. Crescemos a pensar que precisamos de um diploma, de formação académica, de conquistar um leque imenso de “coisas”, para sermos seres satisfeitos, felizes, realizados. Por isso nos agarramos, nos apegamos.
Só que se existe uma coisa que a vida exige de todos os seres do universo, é o desapego.
E desapegar não é abandonar os nossos sonhos e metas, embora pareça, à primeira vista.
Desapego não é isso. Desapego é soltar. Deixar livre.
É libertar-nos do apego que gera preocupação, aflição, dependência, posse, porque tudo o que precisamos e temos de facto, somos nós.
Desapegar significa que vamos amar, mas sem condicionamentos, sem dependências.
Nada é nosso. Tudo o que realmente temos, somos nós mesmos. A nossa essência é a única coisa que vai estar connosco para sempre.
Porque nada é para sempre… exceto nós mesmos. Para nós.
O processo não é ter para ser. Na verdade, é precisamente o contrário.
Ser para ter.
Existir para experienciar, para vivenciar.
O apego traz o medo da perda, mas na verdade, só perdemos o que não temos.
Porque nada nem ninguém existe para colmatar as nossas necessidades, para corresponder às nossas expetativas.
Essa é a nossa tarefa, neste mundo, neste lugar.