A propósito do Dia do Obrigado:

Obrigada à minha professora do 1°ciclo, pela forma pouco sensível com que me ensinou. Pelas bofetadas que me deu, de cada vez que eu apagava e rasgava a folha, no meu jeito "desajeitado" de ser. 

Cada uma dessas bofetadas tinha no fundo a tarefa impossível de me fazer acordar. Inutilmente, é certo. Porque quem nasce num degrau de total alienação da superficialidade, raramente desce ao piso inferior da realidade.

Obrigada a quem não soube guardar um segredo meu. Tornou-me mais desperta e consciente para a evidência de que os segredos são uma invenção nossa. O que não pode ser contado, não nos acrescenta nem faz falta.

Obrigada a todos os que me contrariaram, que me fizeram sentir raiva e vontade de os pontapear. É assim que percebemos que não somos santos e que nas almas boas, a ira também se pode sentar.

Obrigada a quem fingiu de mim gostar. Apenas me fez percecionar, a importância dos sentimentos bons, da essência e da verdade. E que o resto é apenas resto, não tem outro lugar.

Obrigada aos meus pais, que nunca alimentaram gostos caros, nem marcas, ou afins. As roupas, bicicletas e brinquedos dos irmãos e primos mais velhos, ensinaram-me a dar valor aos que vieram antes de mim, a exercitar a vergonha das calças fora de moda e a aceitar que o que usamos, apenas espelha o que temos, não o que somos. 

Obrigada aos outros. Os que me fazem rir,  abraçam, levantam e amparam no tropeçar. São caminho, repouso,  estrada firme para andar.

Mão estendida na maré vazia,  pôr do sol ao entardecer. Gratidão em forma de gente, truque de magia, numa alma contente.