Saneamento tem dezenas de ameaças para a saúde pública e ambiente
Presidente da Entidade Reguladora elogia Projeto piloto em curso em Benavente
O estudo em curso no Sistema de Saneamento de Benavente, patrocinado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) detetou mais de uma centena de ameaças para o ambiente e para a saúde pública.
A investigação realça também as oportunidades existentes com o aproveitamento das lamas para valorização ambiental ou agrícola e o aproveitamento das águas tratadas, enriquecidas com Azoto total, fósforo ou potássio, para rega das culturas.
As principais ameaças são as descargas ilegais de efluentes perigosos, o transporte e deposição de lamas sem cumprir as regras de segurança e as obstruções nas redes de drenagens.
Estas foram algumas das conclusões do Encontro subordinado ao tema “Planos de Segurança de Saneamento” que decorreu na sexta-feira, 27 de junho em Benavente.
O evento, com 130 participantes, foi promovido pelo Município de Benavente, Águas do Ribatejo e pela Consultora Acquawise que fez a ponte com a OMS. A vila ribatejana é a única localidade europeia envolvida num estudo que decorre num universo de 9 países.
Kate Medicott, representante da OMS explicou que depois das experiências desenvolvidas em países como a índia, Vietname, Uganda, Ghana ou Perú, é importante conhecer a realidade europeia. A investigadora realçou a necessidade de apostar na prevenção para evitar as consequências das más práticas para a saúde.
O Presidente da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, Jaime Mello Baptista, enalteceu o fato de Benavente ter aceite este desafio e considerou que é urgente aprovar planos de segurança e aplica-los. “Temos de olhar para o perigo, antes da desgraça acontecer. O processo de tratamento de águas residuais (esgotos) é um filme que nunca sabemos como acaba”, referiu.
Fernanda Fenyves da Direção Regional de Agricultura de Lisboa e Vale do Tejo e Pedro Béraud, da Comissão Especializada de Águas Residuais denunciaram várias práticas ilegais no transporte e deposição de lamas provenientes das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR). Ambos reconheceram que a legislação existente é segura, mas faltam meios de fiscalização e regulação do mercado.
“O destino final é o melhor local para reduzir os custos”, concluiu Pedro Béraud.
No processo de tratamento das águas residuais, a prevenção deve ser palavra de ordem. O presidente da ERSAR defendeu que este projeto piloto de Benavente deve ser replicado noutros pontos do país onde se produzem 600 milhões de m3 de “esgotos” e 500 mil toneladas de lamas por ano.
Na Região, a Águas do Ribatejo já tem em conta um conjunto de procedimentos para minimizar os riscos, mas Margarida Sousa, responsável pelo Gabinete de Qualidade da empresa, e coordenadora do Plano de Segurança, reconheceu que “há ainda muito por fazer”. Em relação ao aproveitamento das lamas para valorização, a AR já incutiu esta prática trabalhando com prestadores de serviços que lhe dão garantias de um processo seguro e cumpridor da legislação.
Quanto ao aproveitamento das águas tratadas nas ETAR, a AR está a estudar o custo do armazenamento e transporte da água para estabelecer parcerias com as associações de regantes e de agricultores.
Neste seminário, Benavente recebeu alguns dos mais cotados investigadores e técnicos do setor e uma forte representação das entidades que cuidam do saneamento e regulam o setor em Portugal.
Carlos Coutinho, Presidente da Câmara Municipal de Benavente congratulou-se com a escolha da vila benaventense e referiu que este estudo já está a ter consequências porque permitiu realçar algumas das fragilidades do sistema de tratamento que começou a ser construído há 40 anos, com a boa vontade das comissões de moradores, mas sem acompanhamento técnico. “Aceitámos este desafio desde o primeiro momento porque acreditamos que a investigação é um investimento para o futuro e queremos aprofundar o conhecimento que temos sobre o nosso processo de tratamento de esgotos”, disse.
O Presidente da Águas do Ribatejo, Francisco Oliveira frisou a aposta que a empresa está a fazer na inovação e na investigação. “Esta empresa tem uma vertente inovadora em vários planos e acreditamos que só conhecendo a realidade dos setores onde operamos, podemos encontrar as melhores soluções”.