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Domingo, 17 de Agosto de 2014
CULTURA AVIEIRA: As vivências Avieiras – Barco e artes de pesca

 

Por: Lurdes Véstia (*)

 

 A forma de estar na vida, que caracterizava os pescadores oriundos da Praia da Vieira, era desconhecida, incompreendida e socialmente marginalizada pelas comunidades locais e por isso os pescadores migrantes, nos primeiros tempos de fixação nas margens do rio Tejo, tiveram de enfrentar a animosidade dos autóctones, vendo-se obrigados a viver nos seus barcos apelidados de bateiras (barcos que têm a proa e a ré em bico e viradas para o céu, medindo entre quatro metros e meio a sete metros. Por fora, são pintadas a pês negro e por dentro com cores vivas e alegres. A vantagem em terem a proa e a ré em bico é o manuseamento do próprio barco), saveiros (pequenas embarcações de cinco a sete metros de comprimento) e também nas caçadeiras (embarcações tipicamente portuguesas que eram também conhecidas por canoas do alto. Existiam em quase todos os centros de pesca do país, embora com maior relevância para sul do Cabo da Roca e costa algarvia. Tinham muita quilha à ré, proa arredondada e popa de painel), onde guardavam todos os haveres e os instrumentos necessários à pesca. Os barcos eram o seu principal instrumento de trabalho, o seu lar, o meio de transporte e tantas vezes a tumba. Ali trabalhavam, dormiam e comiam. Era também ali, no barco, que muitas vezes pariam e eram criados os filhos.

Como me confidenciou uma Avieira: “metíamos na caçadeira alguma comida, o bastante para um ou dois dias, um colchão, uma manta, pratos e talheres e quando chegados a um mouchão, armava-se o tolde no barco e era lá que a gente vivia nesses dias”.

 Na proa do barco era colocado um “tolde” que atravessava “ da borda avante (...)” para servir de abrigo contra as borrascas. Era aqui que toda a família dormia, depois da emparadeira (amparo de madeira que faz de suporte para os pés quando se rema) era colocado um monte de areia para que pudessem fazer lume e que servia de cozinha, a parte da ré era a oficina da pesca e onde se guardavam as redes.Um universo reservado, com leis próprias.

 

 

Aliás o apodo de “cigano” pode também ter surgido pelo facto de os Avieiros, enquanto sociedade fechada e repudiada, terem o hábito de casar entre si, como forma de protecção, para se defenderem e para preservarem o conhecimento que tinham das artes da pesca e para darem continuidade às suas tradições, tal como praticam as comunidades de etnia cigana.

As embarcações utilizadas pelos Avieiros são construídas por eles mas têm vindo a desaparecer dando lugar aos barcos de fibra. Resta, apenas, aos pescadores, as memórias e a transmissão dos legados a outras gentes.

Pesca-se de noite, o arrais (homem), por norma é quem lança a rede e a camarada (mulher) é quem rema o barco aquando do lançamento. Depois a rede é recolhida para o interior do barco, pelo casal, com as duas cordas juntas de modo a fazer um saco.

Cada rede possui, para além de uma nomenclatura diferente, que os Avieiros “concebem”, uma forma e função distintas consoante o tipo de peixe a que se destina. As redes podem ser de arco, de arrasto, de alvitana ou redonda. Os panos de rede diferem na dimensão da sua malhagem - malha mais basta, para o peixe de menor porte, malha mais aberta, para o de maior. Distinguem-se quatro tipos de redes de arco: o buturão, o galricho, o traquete e a nassa que se diferenciam pelo seu tamanho, pelos diâmetros das malhas e das bocas dos arcos. As redes de arrasto, chincha e varina, são as redes de maior dimensão e de forma quadrangular.

As redes de alvitana ou redonda: o sabugar, a branqueira, o estremalho e a savara que se diferenciam pelo tamanho das malhas.

A confecção das redes, arte de sabegar, envolve o casal de pescadores.

 

(*)Mestre em Educação Social



publicado por Noticias do Ribatejo às 08:00
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