Por: Ana Fonseca da Luz
Cumplicidades
Não chores!
A tua tristeza contagia-me.
Começo por olhar-te, depois humedecem-me os olhos, e acabamos por dividir as lágrimas.
Quando as dividimos a dor parece-nos mais amena…
Talvez seja só impressão.
Não chores!
Um dia, quem sabe, em vez de lágrimas, não partilhamos tudo aquilo que hoje nos é proibido.
Como se tudo fosse pecado…
Como se fosse pecado, tentar percorrer o nosso caminho, tirando beleza das pequenas coisas que o mundo, desinteressadamente, põe ao nosso dispor e nós, por burrice, ou medo, deixamos de viver, de usufruir.
Gosto que me ensines coisas.
Gosto de partilhar segredos.
Gosto, de às vezes, chegar ao fim de uma conversa contigo e reparar que não aprendemos nada de novo, nem tu nem eu, mas que aproveitámos o tempo tão bem, como se não houvesse amanhã.
Por isso, não chores!
Juro-te!
Prometo-te!
Brevemente, brevemente, iremos até lá!
Tu sabes onde…
Repara bem, como é a nossa amizade!
Falo-te com meias palavras, com reticências, com frases meio ditas e, mesmo assim, percebes tudo o que te quero dizer, como se me adivinhasses, como se fosses um bocado de mim.
Sabes como se chama isto que nos une?
Cumplicidade…
Deixa estar!
Não chores!
Como diz a Ana Fonseca da Luz, no seu livro, “Um dia, ainda vamos ser muito felizes”…