Por: Ana Fonseca da Luz
Desencontro
Não gosto de te ver caminhar sozinha.
Tenho sempre a impressão que não sabes para onde vais ou então, que te encaminhas para um plano inclinado e que a todo o momento, poderás cair num passado que te foi doloroso.
Às vezes, fico a ver-te passar, de cabeça baixa, envolta num tom de mistério que me agrada e chego a ter vontade de te perguntar quem és.
Mas, arrependo-me sempre.
Afinal, nem te conheço, apenas sei que passas junto à esplanada do café do Arlindo, onde sempre tomo café e escrevo as minhas notas, em direção à estradinha que dá até ao mar, e que ficas sentada numa duna à espera sabe Deus do quê.
Gosto do perfume que deixas quando regressas. Cheiras a mar e ao voo das gaivotas e trazes sempre o rosto mais iluminado, como se aquele mar fosse o que procuras todos os dias.
E não será?
Hoje, atrasei-me e já não te vi passar, para o teu passeio matinal, mas consegui ver-te ao longe, sentada numa duna, com os olhos perdidos num horizonte que parece só teu.
Se soubesses os ciúmes que tenho do mar!
Fiquei na esplanada, fingindo escrever o que já estava escrito, mas acabei por me cansar e ir embora, porque demoravas muito.
Era como se o mar não te deixasse partir….
Foi a última vez que te vi…
Acabei por ficar sem saber quem eras e que dor era a tua.
De qualquer maneira, o mar sempre me traz o teu perfume, quando o vento sopra de feição e, agora, sou eu que todos os dias me sento na tua duna, à espera que as gaivotas me tragam notícias tuas.