“MAR”, o grande clássico do notável autor português Miguel Torga será a próxima estreia da Área de Serviço no Centro Cultural do Cartaxo a 18 de Novembro.
Quando conhecemos o Domingos, reconhecemos de imediato nele a marca de alguém que é diferente, que transporta em si todas as esperanças daqueles homens de quem Torga diz que “é o mar que os cria é o mar que os leva”. Com Domingos, sentimos que pode ser diferente. E, no entanto, ele é apenas mais um pescador dos que se reúnem na taberna a contar histórias do mar e da vida. Só que Domingos conta histórias diferentes, de sereias e marinheiros que, enfeitiçados pelo seu canto, partiram para não mais voltar. Mas para que quer Domingos saber de sereias e feitiços, se o prende à terra o amor para sempre de Rita? Com casamento marcado para quando regressar de campanha na Terra Nova, Domingos faz-se uma vez mais ao mar. Será a lenda mais forte do que o amor?
A 17ª produção da Área de Serviço que conta já com grandes sucessos no seu reportório como “Um Marido Ideal”, "O Crime De Aldeia Velha”, “As Alegres Comadres De Windsor”, “Nápoles Milionária”, “Pânico”, “Trisavó De Pistola À Cinta”, “O Inspector Geral”, “8 Mulheres”, “O Dinheiro Não é Tudo na Vida”, “Pouco Barulho”, “Autópsia de Um Crime”, ou “A Princesa de Galochas”, será “Mar”, uma história de pescadores numa aldeia piscatória de Portugal, num texto extraordinário desse grande poeta que é Miguel Torga.
Foi com uma citação de Miguel Torga que Marcelo Rebelo de Sousa concluiu o seu discurso de tomada de posse: “O difícil para cada português não é sê-lo; é compreender-se. Nunca soubemos olhar-nos a frio no espelho da vida. A paixão tolda-nos a vista. Daí a espécie de obscura inocência com que actuamos na História”.
“Mar” encenado por Frederico Corado, que encenou também as anteriores produções da Área de Serviço no C.C.C., é uma história de pescadores que lutam diariamente pela sua subsistência contra um mar que lhe dá a sobrevivência mas lhe tira a vida.
Esta produção da Área de Serviço reúne o elenco fixo da companhia, assim como um elenco composto por pessoas do concelho do Cartaxo e arredores selecionadas numa audição no espirito já bem enraizado em algumas das nossas produções do chamado “teatro comunitário”, bem como vontades e a colaboração de empresas, lojistas e particulares do Concelho e é o regresso do teatro comunitário que desde “O Escândalo nas Notícias da Noite” não subia ao palco do CCC.
Uma História de “Mar”
Ao longo da História do Teatro Português, o “Mar” tem duas produções absolutamente históricas. Em 1958, com estreia no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, a 29 de Abril foi apresentado pelo Teatro Experimental do Porto, numa encenação e arranjo cénico de António Pedro com um telão de Manuel Lima, com as interpretações de Dalila Rocha (Mariana), Alda Rodrigues (Silvino), Fernanda Gonçalves (Rita), Cândida Lacerda (Capitolina), Cândida Maria (Cacilda), João Guedes (Bernardo), Baptista Fernandes (Arrais), José Pina (Pescador), Madalena Braga (A Mãe), Ruy Furtado (Valadão) e Vasco de Lima Couto (Domingos). O espectáculo fez apenas 4 representações neste Teatro, embora com lotações quase esgotadas, dados os compromissos do Sá da Bandeira, e da programação do próprio TEP. Miguel Torga assiste ao espectáculo dia 28 de Abril.
Anos mais tarde, em 1966, a 5 de Maio, estreava no Teatro Gil Vicente pelo Teatro Experimental de Cascais numa encenação de Carlos Avilez outra versão de “Mar”, desta vez a cenografia estava a cargo do mestre Almada Negreiros e a interpretação era de Luísa Neto (Mariana), António Feio, na sua estreia no teatro com apenas onze anos (como rapaz), Zita Duarte (Rita), Fernando Coimbra (Capitolina), Mirita Casimiro (Cacilda), Filipe La Féria (3º Pescador), Rui Anjos (1º Pescador), Manuel Cavaco (2º Pescador), Santos Manuel (Manuel Valdão), Serge Farkas (Mudo), João Vasco (Domingos), Glicínia Quartin (Mãe do Rapaz), João Coimbra (Arrais) e Marília Costa (mulher). Miguel Torga assiste ao espectáculo dia 28 de Maio.
Desde então algumas foram as companhias que levaram “Mar” à cena, não tantas como seria de esperar quando se trata de um texto tão notável, entre elas estão: Teatro Moderno da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (Lisboa – 1946), CITAC (Coimbra|Teatro Avenida - 1957), com encenação de Paulo Quintela, Teatro da Universidade de Londres (Londres – 1950) com encenação de Ruben A., que também faz, neste mesmo ano, uma adaptação do espectáculo para a BBC, Grupo Activo de Teatro Amador (Gadanha da Nazaré – 1974) com encenação de Humberto Costa, Associação Música Nova (Pernes - 2003) com encenação de Vicente Batalha, Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul (Lisboa - 2014) com encenação de José Boavida, Xenas – Grupo de Teatro Amador do Caramulo (Tondela - 2007) com encenação e adaptação de Tiago Laborim, Loucomotiva Grupo de Teatro de Taveiro, etc