Por: Ana Fonseca da Luz
Os homens também amam
Tu sabes, melhor do que ninguém, que o mar sempre foi nosso confidente e que guardou, sempre, os nossos segredos.
É por isso que hoje estou aqui, frente ao mar, sentado na velha rocha, que tantas vezes nos serviu de cama, que tantas vezes nos viu renascer no abraço apertado e no beijo que o mar salgava.
Eramos meninos…
Agora somos gente grande, com alma de criança. É por isso que continuamos apaixonados, porque não deixámos o coração crescer…
Faz frio.
Há nevoeiro.
O ar cheira a maresia, como nos velhos tempos.
Só as ondas é que não são as mesmas.
Nunca se repetem…
Mas morrem, todas elas, aos nossos pés.
Por mais altivas e bravias que sejam, todas terminam da mesma maneira, desfazendo-se numa espuma branca que, depois, desaparece.
Começo a ficar inquieto!
Será que não vens?
Será que já não sou o teu livro,
o teu mar.
a tua pele,
a tua história de encantar?
Ao longe, cortando a linha do horizonte, um barco passa, num navegar solitário, como se procurasse algo ao alguém.
Deixo os meus olhos percorrerem o seu navegar, porque estou cansado de olhar para o caminho, que te devia trazer até mim.
Provavelmente, não vens.
E eu aqui com as palavras em sobressalto, a morrerem-me na boca, que aguarda o teu beijo.
Hoje não vens!
E ontem também não vieste…
Nem no ano passado, nem no outro…
Que pena!
Apenas te queria dizer, tendo o mar como minha testemunha, que os homens também amam. Os homens também sabem amar, para toda a vida…
Deixo-te escrito na areia, mais uma vez, o quanto te amo.
Talvez venhas, depois de eu ter partido, e nenhuma onda ainda tenha apagado a minha mensagem:
AMO-TE
in O outro lado da vida
A. Luz