António Centeio
(Editor)
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Primeiro pensou-se que passou um tornado na região Oeste, mas afinal parece que foi um "furacãozinho" |
Os resultados preliminares da avaliação técnica do Instituto de Meteorologia (IM) ao temporal da madrugada de 23 de Dezembro que ocorreu na Zona Oeste, e a divulgar hoje, contêm uma surpresa: a partir das observações de um radar instalado em Coruche, o instituto diz ter detectado agora uma pequena faixa onde o vento junto ao solo foi de 220 quilómetros por hora (km/h).
Este valor, bastante superior ao máximo que a entidade dizia até agora ter verificado naquela madrugada (142 km/h na estação meteorológica de Dois Portos, em Torres Vedras) e ao detectado nos parques eólicos da região, sustenta as alegações da EDP nas quais se tem apoiado para justificar as dificuldades de resposta ao incidente nas horas imediatamente seguintes e vem condicionar as possibilidades dos habitantes e agricultores da região accionarem queixas com sucesso. Trata-se de um valor que excede, na zona atingida, os níveis regulamentados para os quais os serviços públicos de fornecimento de energia eléctrica, gás, água e telefones estão obrigados a responder.
Ao que o PÚBLICO apurou, a Deco está a receber desde o final do ano, por carta e telefone, "bastantes pedidos" de esclarecimento e informação sobre direitos de reclamação por parte dos consumidores. A associação de defesa dos consumidores diz que não tem nenhum caso já em fase de conflito, e que se trata "de pessoas que querem saber os seus direitos". Sem possibilidade de contabilização do número de casos que já lhe chegaram às mãos, devido a uma avaria do sistema informático, a Deco recorda que a situação em causa se refere à qualidade do serviço prestado, cuja regulamentação varia consoante o tipo de serviço.
Fenómeno complexo e raro
Com o recurso às observações efectuadas por um radar doppler instalado em Coruche, no sítio da Cruz de Leão, o IM esclarece ter detectado uma zona de ventos máximos instantâneos, superiores aos registados nas estações meteorológicas de Cabo Carvoeiro (140 km/h) e em Dois Portos, "numa faixa entre as mesmas, relativamente estreita, com uma largura de 30 quilómetros, orientada a sudoeste-nordeste, com uma extensão de cerca de 50 quilómetros, no período entre as 4h00 e as 5h00 horas locais". A partir das observações do radar, os técnicos do IM obtiveram valores estimados para o vento máximo instantâneo "junto ao solo em alguns locais da região influenciada pelo fenómeno, que excedem 220 km/h".
Passados 21 dias sobre o temporal que devastou a Zona Oeste, a discussão está longe de fechada. O ponto fundamental continua a ser a medição da velocidade do vento, a altura em relação ao solo em que foi efectuada e de que modo. O Instituto de Meteorologia promete divulgar agora a primeira análise técnica detalhada do que aconteceu - o que sai hoje é o resultado preliminar -, o Governo aguarda pelo relatório da Direcção-Geral de Energia, que espera por sua vez por dados da EDP e até cientistas da Faculdade de Ciências de Lisboa e da Faculdade de Engenharia do Porto e do INEGI colocam a possibilidade de estudarem, em conjunto, a força que destelhou casas, derrubou árvores e postes de tensão.
Para o IM, o que aconteceu foi uma "ciclogénese explosiva". A diferença entre o temporal do Oeste e as condições de mau tempo ditas normais é que a depressão formada na região na véspera de Natal tem direito à categoria de "furacãozinho". As regras dizem que a partir dos 118 km/h já são ventos normalmente associados a um furacão.
Perante os novos dados, investigadores como Delgado Domingos, do Instituto Superior Técnico (na foto, em baixo), e Álvaro Rodrigues, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, manifestam-se surpreendidos e admitem ter-se verificado um fenómeno meteorológico complexo e raro, por alguns segundos ou minutos e num ponto muito localizado da região, que o Instituto de Meteorologia situa numa faixa entre o Cabo Carvoeiro e Dois Portos.
O IM diz não saber quanto tempo durou a rajada de 220 km/h - que foi o pico do vento máximo instantâneo - estimada a 10 metros acima do solo. O que mais surpreende os especialistas é a intensidade que o vento atingiu a esta altura do chão e não ter seguido aparentemente as regras. Ou seja, em condições normais, o vento aumenta de velocidade à medida que a altura em relação ao solo também sobe, isto numa proporção logarítmica.
O que parece ter ocorrido foi o equivalente a uma "corrente de jacto à superfície", em que o vento junto ao solo é excepcionalmente mais veloz do que na dezena de metros imediatamente acima.
Torres não se desligaram
Os postes de média tensão da EDP que caíram em Torres Vedras tinham 20 metros de altura, as torres eólicas da região medem, em média, 80 metros. O registo de vento mais elevado numa torre eólica (medido no seu topo) da região, confirmado pela REN, foi 195 km/h na serra Todo o Mundo, com uma altitude de 250 metros, no Cadaval. A EDP Distribuição assume ser este o valor máximo de que tinha também conhecimento, a partir dos registos da REN.
As torres eólicas desligam-se automaticamente quando o vento sopra a cerca de 100 km/h e colocam as suas pás em bandeira a cortar o vento. Segundo o registo da REN, nenhuma das torres se desligou.
Os postes de média tensão, como os que caíram em Torres Vedras, estão preparados para ventos até 126 km/h, chegando aos 150 km/h para os mais altos (superiores a 50 metros de altura), segundo o regulamento de segurança citado ao PÚBLICO pela Direcção-Geral de Energia.
http://economia.publico.clix.pt/
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Os catorze municípios accionistas da Resioeste, concessionária do aterro sanitário do Oeste, possuem uma dívida de 8,5 milhões de euros pela deposição do lixo em aterro, confirmou à Lusa o administrador da empresa. O presidente do conselho de administração da Resioeste, Nuno Pinto, disse que a dívida é de 8,5 milhões de euros, apesar de admitir que já foi mais avultada. Em Julho de 2009, as contas da empresa, a que a Agência Lusa teve acesso, apontavam para 9,4 milhões de euros por pagar por parte dos municípios. Sendo a que mais resíduos envia para aterro, a câmara de Torres Vedras era o principal devedor com 2,9 milhões de euros em atraso, seguindo-se Nazaré (1,2 ME), Alcobaça (1,4 ME), Caldas da Rainha (1,6 ME) e Azambuja (755 mil euros). A dívida diz respeito a facturas em atraso pela deposição de lixo em aterro pelos vários municípios. As dívidas avolumaram-se desde que há vários anos a Resioeste passou a enviar resíduos para o aterro da Amarsul, em Palmela, aumentando os custos em 1,2 milhões de euros e consequentemente a tarifa cobrada aos municípios. Tratou-se da solução para dar resposta a cerca de 40 mil toneladas de resíduos que o aterro deixou de poder receber, por estar licenciado para apenas 140 mil toneladas. A maioria dos municípios aguarda que se concretize a fusão entre a Resioeste e a Valorsul para virem a pagar uma tarifa de 20,85 euros por cada tonelada de lixo depositada em aterro, em vez dos actuais 38,49 euros. Até 2025, estima-se que as câmaras venham a poupar cerca de cem milhões de euros. Apesar de a Resioeste vir a ser extinta, o administrador da empresa explicou que a dívida dos municípios transitará para a Valorsul. Nuno Pinto revelou que, antes de concretizado o processo de fusão, foi acordado um plano de pagamento com as câmaras, algumas das quais recorreram ao programa “Pagar a Tempo e Horas” para liquidar as dívidas com a empresa. A Resioeste é responsável pelos resíduos de 14 municípios -Alcobaça, Alenquer, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Nazaré, Óbidos, Peniche, Rio Maior, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras-, que vão juntar-se à Amadora, Lisboa, Loures, Odivelas e Vila Franca de Xira, após concretizado o processo de fusão com a Valorsul. A Resioeste é constituída pela Empresa Geral de Fomento (51 por cento) e pelos 14 concelhos (49 por cento). FYC Lusa |