Por: Antonieta Dias (*)
Somos confrontados diariamente com conflitos de natureza vital, sendo que a rastreabilidade de um organigrama detalhado faz parte de um sistema organizacional de saúde.
Os requisitos específicos de qualquer terapêutica médica vão no sentido de salvar o que de mais precioso tem o ser humano que é a sua própria vida.
No que respeita á terapêutica medicamentosa reconhece-se que os requisitos convencionais que se encontram implícitos traduzem a necessidade de a colocar ao serviço de quem dela necessita no grau de especificidade do tratamento da patologia do doente.
Esta conceção determina que não podem ser transferidas competências que pertencem exclusivamente à classe médica para outros profissionais não médicos por mero interesse economicista.
Os princípios subjacentes ao desenvolvimento clinico do tratamento das doenças, bem como a identificação, os modelos a desenvolver de acordo com os parâmetros funcionais que o doente necessita para apoio e segurança da prevenção de sequelas, na eficácia da resolução e objetivação da cura clinica, passam por justificações e comprovações científicas que exigem investigação e conhecimento profundo dos profissionais envolvidos no sistema.
Os riscos específicos associados e provocados pelo uso dos fármacos são imprevisíveis, podendo ser de tal forma nefastos que colocam em risco a própria vida.
Além disso, é uma exigência aplicável a introdução de medidas de farmacovigilância destinadas a vigiar, controlar e notificar os efeitos adversos que possam surgir com a utilização dos medicamentos.
Impedir a transmissão desta cadeia ou coartar os estudos da farmacologia humana é negar as regras básicas de uma medicina de qualidade.
Certo é, que ao tentar desvirtuar a necessidade do conhecimento científico previsto para todos os procedimentos médicos é desrespeitar a pratica do ato medico e indicia uma contaminação nefasta de procedimentos que mais se assemelha a uma comercialização de supermercado e que desrespeitam o doente e a atividade médica.
O mérito desenvolvido pela medicina é reconhecido em todo o mundo como uma das mais nobres profissões como tem sido demonstrado ao longo dos seculos, não devendo por isso ser alvo de uma tentativa de desacreditação.
Importa ainda referir que prevenir, controlar, tratar e curar são processos de tal forma complexos cuja gestão dos riscos abrange os dados clínicos, laboratoriais epidemiológicos do doente e necessitam de ser considerados situações emergentes para que a vigilância a curto, medio e longo prazo seja a expressão de uma prática segura.
Sendo inquestionável que a vida humana tem de ser respeitada, não é lícito tentar transformá-la num equivalente numérico, passível de ser inserida num cálculo matemático e utilizada como potencial ensaio comercial cuja seleção da proposta a adquirir será determinada pelo menor preço apresentado no mercado.
Esta visão economicista da vida humana permite lançar iniciativas tão banais, como a comercialização dos medicamentos nos supermercados, a liberalização na aquisição de fármacos sem receita medica, a tentativa de transferência da pratica do ato medico para outros profissionais, etc., etc., etc.
Com efeito, é urgente que estas decisões sejam englobadas numa reflexão social sobre a vida humana e no reconhecimento de que o cumprimento dos direitos humanos não pode ser esquecido e muito menos desrespeitado.
Ao deixar ao livre arbítrio de profissionais impreparados as decisões dos tratamentos a aplicar de forma adequada ao doente, é desrespeitar a vida humana e transformar a pessoa num utensílio, onde o fornecimento de uma aspirina ou de um paracetamol passara a fazer parte da listagem de elementos que podem ser adquiridas para o uso pessoal como se de uma pasta de dentes se tratasse.
(*) Doutorada em medicina